Grande parte dos ficwriters de longfics me entenderá quando digo que se comprometer a um projeto longo é um contínuo engavetar e desengavetar. Bom, a minha fanfic Relíquia das Almas: O Conto da Espada é de quando eu tinha 16 anos, lá de 2018, e aí se vão… seis anos? É, seis.
Só pra desencargo de consciência
Em outras notas, contexto para as almas perdidas no rolê: minha longfic é do fandom de Grand Chase, e os protagonistas são Elesis Sieghart e Lass Isolet. (Que também são o ship principal da fic.) Os antagonistas são OCs meus, e falarei mais deles conforme surgir a necessidade. Essa fanfic já esteve no ar, porém num belo dia eu olhei pra ela e disse: “Isso aqui… tá uma merda.”
Então eu deletei e tô refazendo. Tudo. Do zero.
…Sim, esse choro que você ouviu é o meu.
Em questão de premissa, a ideia é simples: Elesis Sieghart foi amaldiçoada quando criança, e uniu-se a Lass Isolet, rapaz que a encontra e a reverte a humana, para livrar-se do encantamento que a transforma em espada. (Sim, uma espada.) Ponto.
O desenvolvimento, no entanto, terá subenredos para os protagonistas e antagonistas, bem como pros personagens secundários principais, além da construção de mundo (sobretudo porque a história se passa em cenário pós-guerra). E isso sem falar na exploração temática… não dá pra ser curta. Por outro lado, uma fic que se estende mais do que sua capacidade elástica permite é uó. Por isso, saí podando o que deu pra podar.
A fim de melhor organizar minhas ideias, dividi a fic em duas — Relíquia das Almas: O Conto da Espada e Relíquia das Almas: O Tinir das Lâminas. Por praticidade, considero elas “primeira” e “segunda” temporadas, mas, na realidade, não é uma duologia, desde que consiste em um enredo. Dessa forma, a fic inteira tem seu arco e cada metade tem seu arco próprio.
Foi uma trabalheira danada, mas valeu a pena; facilitou minha vida. Me permitiu ser assertiva na hora de eliminar, ou incluir, linhas narrativas, sabendo o que faria sentido pra história. Um grave problema da primeira versão, de 2018/19, era esse: eu tinha muitas ideias, a maioria ruim, além de não saber onde enfiá-las. I guess we do really need to divide and conquer, sometimes.
Após a esquematização macroscópica, pensei em números. Como diminuir a quantidade de capítulos, cenas e palavras? Bom, pra mim funcionou decidir, arbitrariamente, uma quantidade sonoramente razoável, e ir testando.
Primeiro estimei que 150 cenas seriam suficiente pra contar a história. Calculei, considerando dado número de palavras por cena, e 3 cenas por capítulo. Deu 95. Muuuita coisa. Corta, corta, corta! Passei o pente fino com tesoura múltiplas vezes, e decidi em 100 cenas (ainda é muito, mas é menos), com 20 pro primeiro ato, 60 pro segundo e 25 pro terceiro. Se cada cena tiver 1.500 palavras, essa primeira temporada da longfic termina com 150k.
Uh… tá bom, né? Tá ótimo.
Decerto, hoje em dia me permito maior flexibilidade ao planejar e escrever. Nem toda cena terá exatas 1.500 palavras, e, com certeza, adicionarei um punhado de cenas extras na minha outline. Tá okay. Esses desvios são admissíveis, desde que sirvam à narrativa. O que importa é eu estar centenas de vezes mais tranquila de não cometer erros grotescos com meu enredo, e de ter diminuído, ao máximo, o trabalho da minha eu-futura. Mermão, ô fic pra dar trabalho, viu?!
A partir daqui, as incisões possíveis serão realizadas na revisão e reescrita, capítulo a capítulo, de forma a garantir coerência, coesão e concisão máximas. Essa história será longa, mas não quero que se arraste de forma insossa. Quero entregar a melhor experiência de leitura que eu puder.
Concluímos, portanto, que até uma loooongfic precisa de toda brevidade do mundo.
Seletas observações sobre o meu elenco
Calma, vamos surtar com calma. Vou esmiuçar meu sofrimento pra ti, fanfimor. Comecemos com a infeliz, desafortunada, desgostosa da criação de personagens. Tch. Só de pensar o meu ouvido zune.
Quando as ideias vêm de modo orgânico, os pássaros cantam, as crianças riem e viver é uma delícia. Quando, como no caso dessa fic, eu preciso criar uma personagem que se encaixe na função narrativa que o enredo exige, minha vontade é deitar no chão, sob a chuva, e esperar a terra reclamar os nutrientes do meu corpo.
Há um tempo tive a epifania de idealizar um processo para criar personagens. Esperar a benção das musas gregas não funcionou, então… é, para o terror de alguns, o metodismo se fez vital. Pensei numa linha de raciocínio semelhante à que tenho na hora de montar minhas outlines — de conceito para premissa, de premissa para cenas pilares, e então o preenchimento das lacunas. Ao mesmo tempo, respeitarei a máxima de que a gente só conhece mesmo o nosso elenco depois de começar a rascunhar. Teimo e teimo, mas a voz das personagens evolui com, e está intrinsecamente atrelada, à voz do escritor, então bastante da caracterização ocorre, na realidade, apenas quando começamos a escrever as personagens dentro da história.
O problema é que eu não consigo enxergar essas minhas OCs, sabe? Quando as coloco para atuar no meu teatro mental, nada sai. Não visualizo as interações, ou as curiosidades pitorescas que o meu inconsciente costuma fornecer das outras OCs. Em O Conto da Espada eu tenho duas personagens antagônicas principais — os irmãos Victorio e Vimala Greatergold.
Eles não têm… o tchã. Não têm o ziriguidum, sacas?
Quero tecer um processo de criação de personagens que me permitirá sobrescrever o esqueleto vítreo desses dois em entidades narrativas que soem mais do que um amontado de características. Quero OCs que, com o tanto que minha habilidade como escritora me permitir, saltem da página. Se os leitores não amarem a personagem, que, ao menos, amem lê-la. Contudo, enquanto eu não amar escrevê-las, como poderia sonhar com isso?
Talvez o problema esteja logo no início, no conceito dessas personagens. Talvez sejam chatos. Ou talvez eu somente não me veja neles, pela disparidade nos valores e princípios, e, por isso, não esteja animada para escrevê-los. Quando eu descobrir qual é o problema, resmungarei sobre.
Pondo a criação de personagens de lado (que, aliás, eu difiro do desenvolvimento de personagens), porém ainda no âmbito de “planos para o meu elenco”, outra experimentação futura será costurar um… paralelismo temático, digamos assim.
Note que eu não entendo de teoria narrativa, ou literatura, ou de escrever personagens — …! —, ou de exploração temática. Ou seja: tô aqui na cara de pau, planejando mil e uma peripécias que exigem entender exatamente o que não entendo. Hablo mucho, soy como una vitrola.
Elesis é uma narradora chatíssima, então ela virará gente desde O Conto da Espada. Já o Lass, que taaaalvez eu correlacione com o Victorio, porém nada certo, será o foco de O Tinir das Lâminas. Bom, a Vimala já coringou o que teve pra coringar quando a fic se estabelece, mas haverão flashes de luz sobre o passado dela. Eles contextualizarão as minhas intenções.
Elesis e Vimala têm semelhanças fundamentais em sua formação que me motivam buscar um jeito coerente de ligá-las subjetivamente. Se der certo, dará muito certo.
É provável que nasçam muitas spin-offs desses rolês. Mwehehehehehe… hehehehehe!
Desapeguei de prazos para não odiar minha história
Claro, não deu certo. Minha meta mudou para atualizar “quando desse”, desde que eu terminasse a fic antes dos 25 anos. Vieram as hibernações criativas, a pandemia de Covid-19, a faculdade… hoje eu tô perto dos 25 anos, e longe, muito, muito longe de finalizar O Conto da Espada, então sequer entrarei no mérito de O Tinir das Lâminas.
Não sei porque eu tinha essa cisma, mas tenho minhas teorias. Possuo um histórico de abandonos criativos. Mas… eh. Se abandonar, abandonei, ué. Não vou; gosto demais da longfic, hoje sei disso. Porém se, e somente se, acontecer, faz parte. Segue o baile.
Estou aprendendo a ser flexível. Eu, agora, encaro a fic como um projeto que me acompanhará por anos, e evoluirá junto de mim. O início de O Conto da Espada diferirá do meio, e contrastará com o final; O Tinir das Lâminas será autorado por uma eu que não existe, mas tô construindo, e está tudo bem. É admissível.
Está tudo bem.
Não mais forçarei prazos sufocantes goela abaixo. Eu prego que as fanfics devem ser divertidas pros ficwriters… seguirei meu conselho. Quando terminarei o replanejamento da fic? Quando republicarei ela? Quando terminarei ela? Não sei, não sei, não sei. Quando der. Enquanto der. Enquanto fizer sentido.
Dito isso, uma observação gritante é que, por mais que tenha sido frustrante criar e desistir de múltiplos cronogramas e prazos autoestipulados, no fim das contas, a lentidão terminou por ser benéfica pra minha escrita. Não surpreende que as ideias iniciais fossem juvenis, e minha visão para Relíquia das Almas: O Conto da Espada é de uma longfic que não pode ser manejada por alguém que sabe quase nada sobre a vida e sobre escrever romances. Me orgulho do progresso da fic. E esse aprimoramento artístico não seria possível sem o passar do tempo.
No fim, o processo regulou a si mesmo, e valeram a pena todos os soluços nos primeiros seis anos de existência da história. Não vejo a hora de, finalmente, republicá-la!
Gradualmente me recuperando da hibernação criativa
E isso meio que… não é possível.
Porém! Entretanto! Contudo! Todavia! Tô quietinha, fanficando outro caminho. Me empenharei a sair mais com meus amigos, me faz um bem danado; regularizarei minha alimentação, sono e rotina de exercícios físicos; passarei mais tempo offline, retomando velhos hobbies (artesanato) e sondando novos hobbies (scrapbooking, journaling, pintura).
Ou seja, mais tempo me-mim-comigo, e mais vezes colocando a mão na massa. Por outro lado, o digital não desaparecerá da minha vida, e eu, certamente, experimentarei mais com ficção original. Por hora, decidi que não falarei muito, por aqui, dessa ala do meu percurso com a escrita, mas quem sabe não dê na telha? Nothing’s set on stone, or so they say.
Quanto às variadas outras ideias pra fanfics de Grand Chase e k-pop… veremos, veremos.
Em outras notas, a longfic continuará no off — sem pressa, sem compromissos públicos, quase um projeto pessoal. Decidi que, quando postá-la, será por sequências de capítulos narrativamente interligados. Na minha cabeça esse é o meio termo entre ‘postar conforme escrevo’ e ‘terminar antes de postar’. Espero que dê certo!
Dito isso, obrigada a você, que chegou até aqui. Se for ficwriter de longfics, como eu, desejo ter te transmitido acolhimento, porque, lastimável!, essa vida de fanficagem não é fácil pra nós. Such a shame, really. Porém vale a pena, fanfimor, então sigamos.
Eu voltei pro fim de mundo que é o Twitter. [15/03/25] Não aguentei, família, eu tive que desativar aquele perfil diabólico e não pretendo mais voltar pro umbral da web. Podemos interagir por lá. Tchau, e até mais!
Posteriormente, neste marcador: "1h por dia progredindo com a minha longfic."
2.773 palavras.
E você, fanfimor? O que tem lido? O que tem escrito?
Seis anos teimando com a mesma história, pela qual sou profundamente apaixonada mas cujo escopo representa um desafio exaustivo.
No início eu tinha metas irrealísticas, como atualizações semanais e a manutenção de uma série quinzenal sobre a minha escrita — o falecido Notas Extras & Avulsas —, porém hoje proponho algo mais íntimo, conciso e menor. Quero falar sobre as mudanças da fic, e em mim, nos últimos seis anos; e o que mais der na telha.
Só pra desencargo de consciência
Comentarei rapidamente sobre alguns trechos das também seis versões que esse post teve, a caráter de curiosidade. Sim, seis. Seis versões. Não falemos sobre isso.
- Na primeira versão, de 2021, planejei fazer grande alarde sobre, na época, ter me entendido multissexual. Hoje em dia isso é tudo, menos novidade, mas vamos lá — oi! Eu sou a Mira. Tenho vinte e tantos anos, e sou demissexual multirromântica, além de mulher preta cisgênero. Tive tantos nomes de usuário que nem vale a pena citar…;
- Eu sou Carat! Sou fã do EXO, mas não me considero parte do fandom. Meus favoritos de cada banda são Yoon Jeonghan, Joshua Hong, Kwon Soonyoung, Kim Minseok e Byun Baekhyun;
- Desenvolvi o hábito de ler com frequência nos últimos anos, em grande parte pela influência positiva de uma amiga. Também iniciei minha coleção de livros, apesar da infeliz ausência duma estante aqui em casa, e já tenho posse de alguns títulos sobre estudos transmídia e fantropologia. Quando tiver coragem de relê-los, publicarei ensaios sobre aqui, no EON.
Sobremaneira intrigante, antes eu não mexia em mais de uma fic ao mesmo tempo. Passei a fazê-lo quando voltei a engajar com k-pop, há uns três, quatro anos. Podemos dizer que iniciar ficlets e oneshots RPF me ajudou a sair da hibernação criativa que me assolou no fim de 2019. Gritemos: obrigada, Seventeen! Se hoje tenho cinco gramas de coragem pra encarar a pasta digital da minha longfic, os créditos vão pras dezenas de fics ruins inacabadas perdidas no meu laptop. Oh, how the turns have tabled…
Em outras notas, contexto para as almas perdidas no rolê: minha longfic é do fandom de Grand Chase, e os protagonistas são Elesis Sieghart e Lass Isolet. (Que também são o ship principal da fic.) Os antagonistas são OCs meus, e falarei mais deles conforme surgir a necessidade. Essa fanfic já esteve no ar, porém num belo dia eu olhei pra ela e disse: “Isso aqui… tá uma merda.”
Então eu deletei e tô refazendo. Tudo. Do zero.
…Sim, esse choro que você ouviu é o meu.
Das lições de brevidade que essa fanfic me rendeu
Uma grande preocupação com a fic é seu tamanho. O enredo sofreu, no mínimo, três grandes modificações desde 2018, e foi na segunda versão que eu percebi que a história que quero contar exigirá uma execução cuidadosa.
Em questão de premissa, a ideia é simples: Elesis Sieghart foi amaldiçoada quando criança, e uniu-se a Lass Isolet, rapaz que a encontra e a reverte a humana, para livrar-se do encantamento que a transforma em espada. (Sim, uma espada.) Ponto.
O desenvolvimento, no entanto, terá subenredos para os protagonistas e antagonistas, bem como pros personagens secundários principais, além da construção de mundo (sobretudo porque a história se passa em cenário pós-guerra). E isso sem falar na exploração temática… não dá pra ser curta. Por outro lado, uma fic que se estende mais do que sua capacidade elástica permite é uó. Por isso, saí podando o que deu pra podar.
A fim de melhor organizar minhas ideias, dividi a fic em duas — Relíquia das Almas: O Conto da Espada e Relíquia das Almas: O Tinir das Lâminas. Por praticidade, considero elas “primeira” e “segunda” temporadas, mas, na realidade, não é uma duologia, desde que consiste em um enredo. Dessa forma, a fic inteira tem seu arco e cada metade tem seu arco próprio.
Foi uma trabalheira danada, mas valeu a pena; facilitou minha vida. Me permitiu ser assertiva na hora de eliminar, ou incluir, linhas narrativas, sabendo o que faria sentido pra história. Um grave problema da primeira versão, de 2018/19, era esse: eu tinha muitas ideias, a maioria ruim, além de não saber onde enfiá-las. I guess we do really need to divide and conquer, sometimes.
Após a esquematização macroscópica, pensei em números. Como diminuir a quantidade de capítulos, cenas e palavras? Bom, pra mim funcionou decidir, arbitrariamente, uma quantidade sonoramente razoável, e ir testando.
Primeiro estimei que 150 cenas seriam suficiente pra contar a história. Calculei, considerando dado número de palavras por cena, e 3 cenas por capítulo. Deu 95. Muuuita coisa. Corta, corta, corta! Passei o pente fino com tesoura múltiplas vezes, e decidi em 100 cenas (ainda é muito, mas é menos), com 20 pro primeiro ato, 60 pro segundo e 25 pro terceiro. Se cada cena tiver 1.500 palavras, essa primeira temporada da longfic termina com 150k.
Uh… tá bom, né? Tá ótimo.
Decerto, hoje em dia me permito maior flexibilidade ao planejar e escrever. Nem toda cena terá exatas 1.500 palavras, e, com certeza, adicionarei um punhado de cenas extras na minha outline. Tá okay. Esses desvios são admissíveis, desde que sirvam à narrativa. O que importa é eu estar centenas de vezes mais tranquila de não cometer erros grotescos com meu enredo, e de ter diminuído, ao máximo, o trabalho da minha eu-futura. Mermão, ô fic pra dar trabalho, viu?!
A partir daqui, as incisões possíveis serão realizadas na revisão e reescrita, capítulo a capítulo, de forma a garantir coerência, coesão e concisão máximas. Essa história será longa, mas não quero que se arraste de forma insossa. Quero entregar a melhor experiência de leitura que eu puder.
Concluímos, portanto, que até uma loooongfic precisa de toda brevidade do mundo.
Obs: um dia, que não será hoje, nem amanhã e nem tão cedo, postarei sobre como eu planejo minhas longfics, e essa matemática toda fará sentido. Garanto!
Seletas observações sobre o meu elenco
Eu já choraminguei muito na internet por conta dessa dificuldade fodida com caracterização e exploração temática, e eu vou continuar choramingando! Pelo resto da vida! Cara, sério, namoral.
Que ódio. Que ódio…! Ugh.
Que ódio. Que ódio…! Ugh.
Calma, vamos surtar com calma. Vou esmiuçar meu sofrimento pra ti, fanfimor. Comecemos com a infeliz, desafortunada, desgostosa da criação de personagens. Tch. Só de pensar o meu ouvido zune.
I. Eu escrevo fanfics desde os 12 anos, e entre 2014 e 2018, ano em que comecei essa longfic, li muito, escrevi um bocado, e abandonei inúmeras fics e histórias originais. Apesar de tudo, eu ainda não sei lidar com as personagens dos meus projetos. Dá pra imaginar?
Quando as ideias vêm de modo orgânico, os pássaros cantam, as crianças riem e viver é uma delícia. Quando, como no caso dessa fic, eu preciso criar uma personagem que se encaixe na função narrativa que o enredo exige, minha vontade é deitar no chão, sob a chuva, e esperar a terra reclamar os nutrientes do meu corpo.
Há um tempo tive a epifania de idealizar um processo para criar personagens. Esperar a benção das musas gregas não funcionou, então… é, para o terror de alguns, o metodismo se fez vital. Pensei numa linha de raciocínio semelhante à que tenho na hora de montar minhas outlines — de conceito para premissa, de premissa para cenas pilares, e então o preenchimento das lacunas. Ao mesmo tempo, respeitarei a máxima de que a gente só conhece mesmo o nosso elenco depois de começar a rascunhar. Teimo e teimo, mas a voz das personagens evolui com, e está intrinsecamente atrelada, à voz do escritor, então bastante da caracterização ocorre, na realidade, apenas quando começamos a escrever as personagens dentro da história.
O problema é que eu não consigo enxergar essas minhas OCs, sabe? Quando as coloco para atuar no meu teatro mental, nada sai. Não visualizo as interações, ou as curiosidades pitorescas que o meu inconsciente costuma fornecer das outras OCs. Em O Conto da Espada eu tenho duas personagens antagônicas principais — os irmãos Victorio e Vimala Greatergold.
Eles não têm… o tchã. Não têm o ziriguidum, sacas?
Quero tecer um processo de criação de personagens que me permitirá sobrescrever o esqueleto vítreo desses dois em entidades narrativas que soem mais do que um amontado de características. Quero OCs que, com o tanto que minha habilidade como escritora me permitir, saltem da página. Se os leitores não amarem a personagem, que, ao menos, amem lê-la. Contudo, enquanto eu não amar escrevê-las, como poderia sonhar com isso?
Talvez o problema esteja logo no início, no conceito dessas personagens. Talvez sejam chatos. Ou talvez eu somente não me veja neles, pela disparidade nos valores e princípios, e, por isso, não esteja animada para escrevê-los. Quando eu descobrir qual é o problema, resmungarei sobre.
Pondo a criação de personagens de lado (que, aliás, eu difiro do desenvolvimento de personagens), porém ainda no âmbito de “planos para o meu elenco”, outra experimentação futura será costurar um… paralelismo temático, digamos assim.
Note que eu não entendo de teoria narrativa, ou literatura, ou de escrever personagens — …! —, ou de exploração temática. Ou seja: tô aqui na cara de pau, planejando mil e uma peripécias que exigem entender exatamente o que não entendo. Hablo mucho, soy como una vitrola.
II. Eu tenho certo domínio sobre estrutura narrativa, então, relativo a personagens, são poucas as desavenças com arcos internos. Não sei se me expressarei com clareza, mas lá vai: eu gostaria que os arcos da Elesis e da Vimala possuíssem correlação temática. O tema da longfic, como um todo, é conexão; e os arcos pessoais da Elesis (durante a fic) e da Vimala (no passado dela) evidenciam isso, à sua maneira. Quero costurar um contraste, sabe? “Se fulano tivesse o que ciclano teve, ele não teria acabado assim.” É o que quero dizer com ‘paralelismo’.
Seres humanos de Letras, favor não me @marcar nos comentários. Eu sou da Saúde!
Elesis é uma narradora chatíssima, então ela virará gente desde O Conto da Espada. Já o Lass, que taaaalvez eu correlacione com o Victorio, porém nada certo, será o foco de O Tinir das Lâminas. Bom, a Vimala já coringou o que teve pra coringar quando a fic se estabelece, mas haverão flashes de luz sobre o passado dela. Eles contextualizarão as minhas intenções.
Elesis e Vimala têm semelhanças fundamentais em sua formação que me motivam buscar um jeito coerente de ligá-las subjetivamente. Se der certo, dará muito certo.
III. Talvez você se lembre, fanfimor, de quando eu disse — anos atrás — que essa fic teria o Lupus e a Lin. E aí eu desdisse. Para a felicidade de alguns, estou desdesdizendo o que eu desdisse; pensei num artifício engenhoso… o haros capitalista workaholic e a deusa abrasileirada anarquista darão as caras no relíquiaverso. Será daqui a éons, em O Tinir das Lâminas, e eu francamente ainda não pensei nos detalhes, mas eles estarão lá. Holy aparece na fic, e é uma presença importante na vida do Azin (e, consequentemente, do Jin, da Amy e da Elesis), e ela tudo tem a ver com a Lin, que, inadvertidamente, tem tudo a ver com o Lupus, que certamente interagirá com o Lass, desde que eu não posso perder a chance pra criar uma treta maligna dessas.
É provável que nasçam muitas spin-offs desses rolês. Mwehehehehehe… hehehehehe!
Desapeguei de prazos para não odiar minha história
Se há algo sobre mim, é que tenho quase zero habilidade em estimar o que tiver a ver comigo. Quando postei os primeiros capítulos da versão antiga, eu sonhava com… atualizações semanais. Enquanto mantinha o AE constantemente atualizado, e estudava pro Enem 2019, e vivenciava as crises usuais de uma quase-adulta. E isso ao tempo que ainda planejava a fic, tá?
Claro, não deu certo. Minha meta mudou para atualizar “quando desse”, desde que eu terminasse a fic antes dos 25 anos. Vieram as hibernações criativas, a pandemia de Covid-19, a faculdade… hoje eu tô perto dos 25 anos, e longe, muito, muito longe de finalizar O Conto da Espada, então sequer entrarei no mérito de O Tinir das Lâminas.
Não sei porque eu tinha essa cisma, mas tenho minhas teorias. Possuo um histórico de abandonos criativos. Mas… eh. Se abandonar, abandonei, ué. Não vou; gosto demais da longfic, hoje sei disso. Porém se, e somente se, acontecer, faz parte. Segue o baile.
Estou aprendendo a ser flexível. Eu, agora, encaro a fic como um projeto que me acompanhará por anos, e evoluirá junto de mim. O início de O Conto da Espada diferirá do meio, e contrastará com o final; O Tinir das Lâminas será autorado por uma eu que não existe, mas tô construindo, e está tudo bem. É admissível.
Está tudo bem.
Não mais forçarei prazos sufocantes goela abaixo. Eu prego que as fanfics devem ser divertidas pros ficwriters… seguirei meu conselho. Quando terminarei o replanejamento da fic? Quando republicarei ela? Quando terminarei ela? Não sei, não sei, não sei. Quando der. Enquanto der. Enquanto fizer sentido.
Dito isso, uma observação gritante é que, por mais que tenha sido frustrante criar e desistir de múltiplos cronogramas e prazos autoestipulados, no fim das contas, a lentidão terminou por ser benéfica pra minha escrita. Não surpreende que as ideias iniciais fossem juvenis, e minha visão para Relíquia das Almas: O Conto da Espada é de uma longfic que não pode ser manejada por alguém que sabe quase nada sobre a vida e sobre escrever romances. Me orgulho do progresso da fic. E esse aprimoramento artístico não seria possível sem o passar do tempo.
No fim, o processo regulou a si mesmo, e valeram a pena todos os soluços nos primeiros seis anos de existência da história. Não vejo a hora de, finalmente, republicá-la!
Gradualmente me recuperando da hibernação criativa
Da mesma maneira que essa fic específica prosperou e floresceu, as minhas habilidades artísticas, como um todo, sofreram mudanças significativas. Sobretudo na pandemia de Covid-19, estive muito mal; parei de desenhar, de escrever, mal lia… uó. Não me recuperei completamente, desde que existem aspectos da minha saúde psicológica — que influencia minha disposição para criar — cujo tratamento nada mais é que uma casa própria, estabilidade financeira, terapia em dia e tirar um mês de férias numa pousada, com comida e passeios inclusos.
E isso meio que… não é possível.
Porém! Entretanto! Contudo! Todavia! Tô quietinha, fanficando outro caminho. Me empenharei a sair mais com meus amigos, me faz um bem danado; regularizarei minha alimentação, sono e rotina de exercícios físicos; passarei mais tempo offline, retomando velhos hobbies (artesanato) e sondando novos hobbies (scrapbooking, journaling, pintura).
Ou seja, mais tempo me-mim-comigo, e mais vezes colocando a mão na massa. Por outro lado, o digital não desaparecerá da minha vida, e eu, certamente, experimentarei mais com ficção original. Por hora, decidi que não falarei muito, por aqui, dessa ala do meu percurso com a escrita, mas quem sabe não dê na telha? Nothing’s set on stone, or so they say.
Quanto às variadas outras ideias pra fanfics de Grand Chase e k-pop… veremos, veremos.
⁂
Há tempos rascunhei metade de um artigo que nunca será publicado, minha primeira tentativa de falar mais de mim. Esse tempão sem dar as caras na web foi todo assim: pensar num tema, talvez iniciá-lo, raramente finalizá-lo, definitivamente arquivá-lo. Sob o nobre interesse de aprender a fechar a porra da matraca, por hoje é só.
Em outras notas, a longfic continuará no off — sem pressa, sem compromissos públicos, quase um projeto pessoal. Decidi que, quando postá-la, será por sequências de capítulos narrativamente interligados. Na minha cabeça esse é o meio termo entre ‘postar conforme escrevo’ e ‘terminar antes de postar’. Espero que dê certo!
Dito isso, obrigada a você, que chegou até aqui. Se for ficwriter de longfics, como eu, desejo ter te transmitido acolhimento, porque, lastimável!, essa vida de fanficagem não é fácil pra nós. Such a shame, really. Porém vale a pena, fanfimor, então sigamos.
Posteriormente, neste marcador: "1h por dia progredindo com a minha longfic."
2.773 palavras.
E você, fanfimor? O que tem lido? O que tem escrito?